Sérgio Cabral, LULA, Dilma e Eduardo Paes
Eu jamais poderia deixar de compartilhar com VOCÊS, a Carta que o grande e admirável Mestre, Prof. Rodolfo, enviou à minha esposa.
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA!
de Rodolfo Rego
Carta aberta aos amigos
Um simples estudante que tinha a obrigação de votar. Essa é a definição mais correta de alguém que sempre foi eleitor de Lula por influência dos pais e que jamais compreendeu a importância deste ato para o futuro de seu país e do seu próprio dia seguinte.
Contudo, iniciei a mudança desse cenário a partir da eleição de 2002, quando decidi definitivamente deixar de ser um eleitor passivo (alienado, que apenas lembrava-se da eleição a cada 04 anos e que não se recordava sequer em quem votou na última vez em que foi à urna eletrônica) para me tornar um eleitor ativo, consciente, capaz de votar e acompanhar o desenrolar do governo de seu candidato. Imaginei algo distinto de um universo quadrado, que a partir daquele instante tornar-se-ia um horizonte de conhecimento e estudo sem precedentes.
Com o apoio de do grande amigo Mardone, decidi observar atentamente o governo Lula, coletando vasta pesquisa bibliográfica e de dados para compreender noções básicas de economia e mercado, com o objetivo de tornar-me um simples analista crítico da minha sociedade contemporânea, especialmente no sentido de confrontar os avanços sócio-econômicos alcançados neste governo com o do Sr. Fernando Henrique Cardoso.
A partir desta concepção de maturidade pessoal, passo a expor minhas humildes impressões sobre o atual processo eleitoral brasileiro.
A ERA LULA E O AVANÇO DA DIGNIDADE BRASILEIRA:
A eleição de Lula foi uma conquista do povo brasileiro, especialmente daqueles que foram eternamente renegados à margem de uma sociedade digna. Ele iniciou uma ruptura histórica com um novo padrão político-social, e isso, com certeza, a sociedade não poderá mais perder. Não conseguiu fugir à mecânica macro-econômica que privilegia o capital e mantém os fundamentos que permitem a acumulação das classes opulentas, mas deu início a uma transição de um estado privatista e neoliberal para um governo republicano e social que confere centralidade política à coisa pública, beneficiando milhões de pessoas.
A principal marca de um governante é ter em seu coração e mente que o núcleo de seu trabalho é o horizonte do povo, suas necessidades e carências primeiras, e isso Lula o fez sem trair as suas origens de sobrevivente da carnificina que se tornou a sociedade brasileira, especialmente para as pobres almas abandonadas pelo interior desta nação que sempre se encontraram esquecidas e subjugadas por uma classe política opressora e dominante de suas consciências.
Há exatos oito anos pregaram o medo contra Lula. Ocorre que o contrário do medo não significa coragem, e sim, fé! Lula sempre acreditou no povo brasileiro e nas potencialidades da nossa nação. Lula e seus companheiros ousaram, ousaram especialmente, pensar! E conduziu as pessoas a saírem da alienação dos poderosos e também, pensarem!
Isso caro amigo leitor: pensar! Mais, iniciaram a implementação de sonhos em torno de um novo país, de um novo Brasil! A propositura de um projeto ousado, arrojado, audacioso para esta nação foi desenvolvida por seu partido. Herege, louco: Lula. Condenado.
Estava condenado o maior de todos os insanos, Lula - enfrentar a elite golpista da direita e da imprensa brasileiras.
Ter fé no possível e amar o que ainda não havia sido feito, visto, sentido, realizado é a maior virtude de Lula e do PT. Começava uma jornada de conquistas e avanços sociais que venceram o medo nas urnas. Um país triste, sombrio, temeroso, medíocre e pequeno foi sepultado junto com a escória da elite deste país, nascendo, então, um país encantado e encantador que foi iluminadamente gerado naquele inesquecível 1° de janeiro de 2003, quando centenas, milhares de novos cidadãos acompanharam a mais histórica de todas as posses presidenciais: um membro do povo alcançava o posto mais alto da nação!
Com Lula, 36 milhões de pessoas entraram para a classe média e 20 milhões saíram da pobreza absoluta. Milhões de pessoas passaram a ter diariamente 03 refeições. O que isso significa? No meu coração, um sentimento; para essas pessoas, excluídas, sofridas, massacradas, o fim da fome!
O conceito de inclusão social e distribuição de renda antes tidos, apenas como objeto de estudos universitários e de pesquisas tornaram-se objeto da agenda social. A mobilização de classes e a crescente interiorização do sentimento de possibilidades tomaram conta desta nação. Um novo Brasil como um ente público democrático passou a olhar para si próprio como uma nação capaz de distribuir renda e direitos a todos!
Terra de excluídos. Este sobrenome do nosso país está sendo definitivamente sepultado na medida em que democraticamente uma nova releitura de direitos sociais deixou de ser metaforicamente propagada em discursos neoliberais e passou a ser garantida a todos os brasileiros. O Brasil desenvolveu uma política econômica e social que permitiu que a nova sociedade apresentasse uma dignidade robusta, que esqueceu o enxugamento do Estado e passou a ter responsabilidade sobre os direitos sociais atribuídos a todos desta nação.
Evidências materiais destes avanços são perceptíveis no cotidiano da sociedade (redução do desemprego, queda da inflação, aumento do poder aquisitivo real, ampliação do salário mínimo, crescimento dos investimentos estrangeiros e pagamento da dívida do FMI), inclusive das classes preconceituosas que não aceitarão jamais alguém como Lula no poder, mesmo tendo benefícios materiais para seu enriquecimento pobre e profético.
A ODIOSA GUERRA SANTA
Chamado à atenção em Canindé, o patético José Serra percebeu que a estratégia política de apelar para a imaturidade preconceituosa de alguns religiosos brasileiros estava saturada e errônea. Manter uma proposta eleitoral fundamentada em boatos como o assassinato de criancinhas, aborto e homossexualismo revela a verdadeira e perigosa face não só de um candidato inescrupuloso e capaz de vender a própria alma para satisfazer desejo pessoal de tornar-se presidente da república, mas também, como percebi nas ruas, a mais completa alienação de uma ampla parcela da sociedade, em sua maioria detentora de meios de acesso à informação, mas que por preconceito e mediocridade intelectual, vi ser incapaz de buscar a verdade e compreender as circunstâncias dos fatos, pois preferia, ou não aceitava, ver a verdade.
Reduzir o debate eleitoral a um QG de mentiras apoiadas por fundamentalistas evangélicos e católicos, por exemplo, demonstra o quanto parcela da sociedade religiosa prega ao amor à Deus, mas serve essencialmente aos homens e ao dinheiro.
Segundo a revista Istoé desta semana sobre a central de boatos montada pelo PSDB com o apoio das igrejas:
Os panfletos apreendidos evidenciavam que os tucanos montaram um bureau especializado em divulgar difamações, reunindo profissionais da mentira com a tarefa de espalharem boatos envolvendo principalmente sexo e aborto. Com tentáculos no submundo da campanha eleitoral, este aparelho utiliza-se de setores radicais geralmente afeitos à sombra da atividade política institucional: integralistas, monarquistas da direita extremada e setores ultraconservadores da Igreja. Ao contrário do que pressupõe a biografia oficial de Serra, esses fatos demonstram que para tentar vencer a eleição o ex-governador paulista fez parceria até com grupos que sempre estiveram ao lado do autoritarismo.
O comitê da campanha de Serra ocupa quatro andares do antigo Edifício Joelma, no centro de São Paulo. No térreo fica o chamado baixo clero, que recebe informações de militantes que estão nas ruas e busca cooptar lideranças de diversos segmentos, como o dos religiosos. É ali que trabalham operadores como o pastor Alcides Cantóia Jr. Ele coordena com afinco o grupo dos evangélicos que, entre seus trunfos, se orgulha de ter conseguido a adesão do pastor Silas Malafaia, do Rio de Janeiro, estrela de um dos vídeos mais ferinos contra Dilma. Na última semana, o grupo foi encarregado de oferecer benefícios financeiros às igrejas e seus projetos sociais, uma forma de compra de votos que deverá ser investigada pelo Ministério Público Eleitoral. O cérebro do bureau fica no 20º andar do Joelma, ninho dos tucanos mais poderosos.
A avalanche de baixarias que eles produzem é tão intensa que o PT já recebeu mais de cinco mil denúncias sobre mensagens e vídeos ofensivos à candidata petista. Apesar de toda essa estrutura, o presidenciável Serra procura se apresentar como vítima e cinicamente afirma que foi o PT que colocou o debate sobre o aborto na pauta eleitoral. Não foi!
Em meio a um terreno infértil de uma campanha sem debate políticos, germinou a semente do fundamentalismo religioso. Moral, comportamento e crenças manifestaram-se constantemente, fazendo com que candidatos passassem a freqüentar cultos e missas e se manifestassem devotos de alguma manifestação de Maria.
Ao centrar-se no reforço de um fundamentalismo religioso, falso-moralista, o debate eleitoral "escolheu" um inimigo ou melhor uma inimiga: a mulher. Direitos sexuais e reprodutivos, nem pensar. Liberdade e autonomia da mulher, causa de todos os males... Assim foi vista a mulher nas eleições! Foi reforçado o papel da maternidade obrigatória e mais uma vez inviabilizando o trabalho das mulheres (dupla ou tripa jornada de trabalho não remunerado).
Revelando uma hipocrisia manifesta, Serra propôs incitar o ódio dentro da sociedade. Não temos mais o medo de 2002, mas sim, a mentira! Contundo, minha maior decepção e tristeza não vejo com este dissimulado golpista candidato à presidência, mas com boa parte da sociedade que calou-se incitada pelos valores falsamente morais que o ceio da família brasileira ainda infla o peito para pregar.
Intolerância e preconceito. Castas como estas são feridas doloridas que são sentidas neste país. Revelam as pesquisas que as próprias mulheres em sua relevante maioria revelam não votar em Dilma. Os evangélicos em sua relevante maioria revelam não votar em Dilma. Quando decidi propor a alguns evangélicos debater o Brasil, obtive como resposta: é pecado fazer aborto. Realmente, a mais medíocre de todas as respostas não poderia ser proferida por pessoas que são incapazes em sua relevante parcela de debater os propósitos de seu país, mas os ganhos e benefícios com o governo tucano ficam por debaixo do pano, com certeza. Glória a Deus.
Para salvar as mulheres dessa situação que, se levada adiante, as fará prisioneiras do fundamentalismo religioso. Para salvar a democracia dessa crescente vertente que quer subordinar o Estado Laico aos preceitos religiosos. É necessária a política!É fundamental fazer política. É preciso tirar a política dos templos e igrejas, levá-la às ruas. Debater a partir das necessidades reais das pessoas, construir programas de superação dos problemas e empurrar o limite do impossível a luta por liberdade e igualdade social.
O OLIGOPÓLIO DA IMPRENSA NO BRASIL
Meios de comunicação como a Rede Globo, revista Veja, o Estado de São Paulo, o Globo e o grupo Folha são contrários aos avanços dos movimentos sociais e inflamam a propagação do medo dentro da sociedade quando seus interesses são prejudicados. Eles possuem o poder de gerar crises.
A imprensa no Brasil ao passo em que demonstra um complexo de perseguição e de inferioridade digna de uma sessão a ser marcada no psiquiatra mais caro deste país, nem de longe pode ser caracterizada como democrática e livre, pois mantém uma pauta jornalística que sistematicamente propõe-se inimiga dos movimentos sociais, tentando desconstruí-los em essência, atribuindo-lhes rótulos nefastos e perigosos à consciência democrática da nossa sociedade.
É possível perceber ao longo dos anos um embate entre a Rede Globo e o governo Lula. Em 1989, o então candidato à presidência da república Lula foi objeto de um golpe midiático perpetrado pela Rede Globo que, para impedir sua vitória, fabricou a candidatura de Fernando Collor de Mello. Desde então, especialmente com a era Lula, é possível perceber que a imprensa sente saudades deste período imperial internalizado, onde as pessoas se comportavam como súcubos.
A imprensa brasileira não aceita, não tolera que o Brasil ganhe relevância mundial e torne-se protagonista dos atos políticos, pois isso significa crescimento das pessoas, significa ampliação da capacidade de pensar. Lula ousou pensar e até hoje paga o preço, diariamente. Eu penso juntamente com ele!
DILMA PRESIDENTE!
Há duas propostas em andamento: uma é neoliberal ainda vigente no mundo e no Brasil, que tem por objetivo a sociedade acerca do caráter intensamente depredador do processo de acumulação e concentração de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças e da exclusão. Serra representa essa proposta! O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto.
Durante a era Fernando Henrique Cardoso, o país embarcou alegremente no barco que no final de seu mandato quase afundou o Brasil. Para dar certo, ele postulou uma população menor do que aquela existente. Cresceu a multidão dos excluídos. Os pequenos ensaios de inclusão foram apenas ensaios para disfarçar as contradições inocultáveis.
O Brasil ainda é um terreno em construção, com os pilares erguidos, postos, firmes neste solo, mas ainda não acabado. Agora o mais importante questionamento: que Brasil finalmente queremos? Qual a cara deste país?
Neste momento, faltando poucos dias para a eleição, tais projetos repontam com clareza. É importante cada eleitor conscientizar-se de que está em jogo além das palavras e promessas, o nosso futuro e o que desejamos para nós e nossos filhos, especialmente quando chegamos diante de uma pequena urna eletrônica e deveremos digitar qual dos projetos atende melhor às urgências das maiorias que sempre foram as “humilhadas e ofendidas” e consideradas “zeros econômicos” pelo pouco que produzem e consomem.
Essas maiorias conseguiram se organizar, criar sua consciência própria, elaborar o seu projeto de Brasil e digamos, sinceramente, chegaram a fazer de alguém de seu meio, Presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma virada de magnitude histórica. As pessoas, não todas, mas boa parte delas passaram a refletir, pensar por si próprias!
O atual projeto tem por base social o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil. Este projeto se constrói de baixo para cima e de dentro para fora. Que forjar uma nação autônoma, capaz de democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades. Esse projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no ganha-ganha e não na truculência do mais forte.
Ora, é plausível, o governo Lula deu corpo a este projeto. Produziu uma inclusão social de mais de 30 milhões e uma diminuição do fosso entre ricos e pobres nunca assistido antes, em nossa história. Representou em termos políticos uma revolução social de cunho popular pois deu novo rumo ao nosso destino. Essa virada deve ser mantida pois faz bem a todos, principalmente às grandes maiorias, pois lhes devolveu a dignidade negada.
Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto que deu certo. Muito foi feito, mas muito falta ainda por fazer, pois a chaga social dura já há séculos e ainda sangra. Sonhamos com uma democracia social, popular e ecológica que reconcilie ser humano e natureza para garantir um futuro comum feliz para nós e para a humanidade que nos olha cheia de esperança.
Vamos pensar, juntos! Mostremos a nossa cara, a verdadeira face deste país!
Rodolfo Rego
advogado e professor